quinta-feira, 1 de junho de 2017

A viagem das plantas

Como seria hoje a nossa alimentação se não conhecêssemos a abóbora, o amendoim, o ananás, a batata, o cacau, o feijão, o girassol, o milho, o pimento e o tomate? 
Muito monótona, certamente.



Ora, na realidade, todos estes produtos são de origem americana e eram perfeitamente desconhecidos na Europa, e no resto do mundo, antes de 1500. Mas, com as grandes viagens dos Descobrimentos tudo mudou e a dieta dos europeus, alterou-se radicalmente, sendo enriquecida com numerosos produtos vegetais oriundos de outros continentes.
Por exemplo, a dieta medieval portuguesa era bastante limitada, constando sobretudo de pão de trigo ou centeio; de legumes variados, com predomínio para as couves, o grão e as favas; de frutas, como as castanhas, as maçãs, as uvas ou os marmelos; de vinho e de azeite; e de mel, que servia de adoçante. Algum peixe e alguma carne completavam a mesa dos mais abastados.

Lisboa no séc. XVI era uma cidade 
fervilhante, repleta de visitantes exóticos.

Nas novas terras contactadas, em África, na Ásia e na América, os navegadores portugueses depararam com novos alimentos e novos condimentos, anteriormente desconhecidos ou pouco vulgarizados.



Transplantaram-nos para Portugal ou para os arquipélagos da Madeira, dos Açores, São Tomé e Cabo Verde. Estes arquipélagos funcionaram como jardins de aclimatação por beneficiarem de climas mais ajustados às novas plantas.

Graças à Expansão foi possível acontecer a viagem das plantas:
 - De África, os navegadores portugueses trouxeram a malagueta, o coco, a melancia, e mais tarde também o café, que diversificaram a nossa gastronomia.



- Da Ásia, vieram especiarias exóticas como a pimenta, a canela, o gengibre e o cravo-da-índia, que se vulgarizaram em Portugal e, logo depois, na Europa. Vieram também frutas então quase desconhecidas entre os europeus, como a banana, a manga e a laranja doce. Da longínqua China, os portugueses trouxeram ainda o chá, que é hoje a bebida mais consumida a nível mundial.



- Da América, trouxeram os navegadores ibéricos (portugueses e espanhóis) numerosos produtos que hoje fazem parte integrante da gastronomia europeia, como a abóbora, o amendoim, o ananás, a batata, a batata-doce, a baunilha, o cacau, o caju, o feijão, o girassol, o maracujá, o milho, a papaia, o pimento e o tomate.




O Livro de cozinha da Infanta D. Maria dePortugal, século XV, neta de D. Manuel I é o livro de receitas mais antigo de Portugal. 
A receita de picadinho de carne de vaca mostra-nos a importância das especiarias na culinária: lavem carne de vaca bem macia, e piquem-na bem miudinha. A seguir, adicionem-lhe cravo, açafrão, pimenta, gengibre, cheiro-verde bem cortadinho, cebola batida, vinagre e sal. Refoguem tudo no azeite, e deixem cozinhar até secar a água. Sirvam sobre fatias de pão.


D. Maria de Portugal







Assim, espécies completamente novas foram facilmente adotadas em zonas do globo distintas das de origem, tendo inclusivamente substituído as espécies autóctones, devido às suas vantagens nutritivas e de produtividade.



O milho, por exemplo, foi um cereal que se impôs pela sua produtividade. Introduzido em Portugal por volta de 1520, chegou à Birmânia e à China em 1597, pela mão dos portugueses. Bastou menos de um século para dar a volta ao mundo.



Em suma, as comunicações intercontinentais permitiram que homens, animais, plantas, objectos e ideias cruzassem o mundo em todas as direcções.
Hábitos localizados em áreas restritas do globo foram-se generalizando, lenta mas irreversivelmente, como sucedeu, por exemplo, com o consumo do açúcar, da pimenta e da canela, do gengibre e do cravo, do tabaco, do café, do chocolate, do chá, do algodão e das porcelanas ou com a utilização de armas de fogo.


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